Como aprender inglês: Um guia para desenvolvedores, Parte 2
Parte 2: Pratique diariamente. Áudio em primeiro lugar.
No post anterior eu expliquei quais são, na minha opinião, os principais erros que as pessoas cometem ao tentar aprender inglês.
Agora chegou a hora de fazer o oposto: vou detalhar o que você deve fazer para aprender inglês da forma correta, gastando pouco e se divertindo no processo.
Antes, um disclaimer
Apenas para deixar claro. Eu não sou de forma alguma uma autoridade em aprendizado de idiomas. Não sou formado em Linguística ou algo do tipo. Não tenho credenciais.
Também não estou fazendo promessas mágicas, do tipo “fique fluente em três meses”. Desconfie de qualquer um que venda esse tipo de coisa. Aprender inglês é mais fácil do que a maioria das pessoas pensam, mas ainda sim leva tempo e demanda esforço.
Este post e o anterior têm o objetivo de compartilhar a minha experiência no aprendizado do inglês, detalhando o que funcionou ou não para mim. Também é minha intenção que você aprenda com meus erros, de modo que sua jornada não precise demorar tanto quanto a minha.
Se eu aprendi inglês, você também pode
Eu nunca fiz curso de inglês em escola particular. Com exceção de uma vez que fui à Wizard da minha cidade entregar currículo para o cargo de professor de informática, eu nunca entrei em uma escola de inglês. Também estudei em escola pública a vida toda. Nunca fiz intercâmbio (aliás, nunca saí do país). Durante a maior parte da vida, não tive computador e internet em casa. Smartphone? Só aos 22 anos.
E eu tenho confiança para dizer que o meu inglês é melhor que várias pessoas que conheço que tiveram uma ou mais dessas oportunidades. Sei que corro o risco de soar arrogante dizendo este tipo de coisa, mas garanto que esta não é a intenção. Muito pelo contrário, estou tentando usar meu exemplo pessoal para tentar derrubar alguns mitos.
Não, não precisa sair do país para aprender inglês. Não, não precisa estudar em escola de inglês famosa. Não, não precisa ter muito dinheiro.
Tudo isso é nice to have, não must have. Se você tiver oportunidade de fazer intercâmbio, então é claro que você deve ir. Se você teve a oportunidade de estudar inglês desde cedo, meus parabéns. Se você tem muito dinheiro…bora dividir um pouco? ;)
Apenas não use a falta de uma ou mais destas coisas como desculpa para não se dedicar.
Minha jornada com o inglês
Se eu tivesse que listar de forma resumida o meu trajeto no inglês, seria algo assim:
- Fase informal
- Vários anos de contato contínuo, porém limitado, com o inglês escrito.
- Exposição ao inglês falado por meio de filmes e músicas.
- Fase formal
- Leitura de dicas de vocabulário e expressões
- Prática consistente de listening
- Conversação com professor nativo
Vou agora expandir esses tópicos e contar em detalhes a história do meu aprendizado em inglês.
A “fase informal”
Eu sempre gostei e tive vontade de aprender inglês. Mas minha família não tinha condições de pagar um curso; eu também não tinha videogame, videocassete (sim, você não leu errado) ou outras amenidades que poderiam de alguma forma me dar mais exposição ao inglês.
Computador só em sonho. Naquela época (meados dos anos 90) o custo de um computador era proibitivo para a maior parcela da população (que era exatamente a minha parcela).
Para piorar, nesta época não havia aulas de inglês para ensino fundamental antes da quinta série, pelo menos no ensino público. Atualmente parece que as crianças recebem aulas de inglês desde a pré-escola. Antes tarde que nunca, certo?
Sendo assim, minha exposição ao inglês era rara e em doses minúsculas. Por exemplo, eu lia tudo em inglês que encontrava em embalagens e manuais de instruções de aparelhos que meus pais compravam; eu lia as coisas em inglês nos próprios aparelhos; eu mudava o idioma do menu da TV para inglês (e espanhol também) só para ver como era.
A TV era outra fonte de pequenos momentos de contato com o inglês, através de filmes e desenhos. Sim, eu assistia tudo dublado, claro (TV a cabo? O que é isso?). Mas ainda sim oportunidades surgiam; o exemplo típico é quando aparecia algo escrito em inglês no filme/desenho (letreiro de loja, rótulo de algum produto, sinal de trânsito, título do episódio) e o locutor falava em português a tradução.
Foi em 2001, mas eu me lembro bem como estava ansioso para o início da quinta série. Finalmente iria ter aulas de inglês!
Imagine o grau da minha decepção quando as aulas de fato começaram.
Não quero causar polêmica mas acredito que não é segredo nenhum que as aulas de inglês do ensino público…deixam a desejar.
Seria injusto (e mentiroso) dizer que eu não aprendi algo. Eu aprendi os dias da semana, os meses do ano, os números (até um certo ponto), o básico do verbo to be. Tudo isso, claro, com uma pronúncia que passava longe da correta, mas depois vou voltar a esse assunto.
Em algum momento eu comprei um minidicionário de inglês, que embora fosse bem limitado, tinha uma feature muito útil: na frente de cada entrada do dicionário, havia a pronúncia “aportuguesada” da palavra.
Algo assim:
Isso me ajudou a aprender a pronúncia aproximada de várias palavras, e ver que elas eram bem diferentes do que eu imaginava (e do que muitas pessoas pronunciavam).
Minha exposição ao inglês ia lentamente crescendo. Acho que foi mais ou menos nesta época que eu finalmente ganhei um video-game: o lendário Polystation!
Não era o que eu realmente queria, claro, mas ainda sim me proporcionou muitas horas de diversão e um pouco mais de aprendizado.
Foi por volta de 2004 que eu finalmente realizei outro sonho: comprei um aparelho de DVD. \o/
Eu privilegiava alugar filmes mais antigos, que eram mais baratos que os lançamentos. E ainda assim, eu alugava relativamente poucos filmes, às vezes só um. Então, eu queria aproveitar ao máximo: eu assistia dublado, depois novamente legendado, via todos os materiais extras disponíveis, como documentários, cenas excluídas, comentários de diretor, este tipo de coisa. Um ponto importante é que o material extra era apenas legendado, o que me forçava a assistir com legendas, mesmo não gostando muito na época.
Com cerca de 14, 15 anos, uma nova paixão surgiu na minha vida: a música (ou para ser específico, o rock). Mais aprendizado veio na forma de tradução das letras das músicas nos encartes dos CD’s.
No final de 2006 eu consegui meu primeiro estágio na área da informática. Depois de algum tempo (provavelmente no começo do ano seguinte) comprei meu primeiro computador: um Positivo, com configurações risíveis. Mas era um sonho que eu tive por boa parte da minha vida e finalmente havia conseguido realizá-lo.
Eu continuava não tendo acesso à internet, porém. Sinceramente não lembro bem a razão; deve ter sido uma mistura de custo proibitivo e falta de cobertura em nosso bairro, provavelmente. Mas eu tinha acesso à internet no próprio estágio, então eu aproveitava os momentos livres para ler, principalmente artigos na Wikipédia.
Lá para meados de 2007 finalmente consegui ter acesso à internet em minha casa, por meio de um provedor local, via rádio. Era uma conexão bem precária, com a velocidade apenas um pouco maior do que internet discada, mas já era alguma coisa.
Interessante salientar que nesta época minha leitura já era boa; eu conseguia entender com facilidade a maior parte dos textos que me propunha a ler. Todos os anos de exposição contínua ao inglês, ainda que limitada, estavam dando fruto.
A fase “formal”
Aprendendo a estudar inglês
Em 2010, eu iniciei o bacharelado em Ciência da Computação. Também comecei a fazer estágio em uma pequena firma de desenvolvimento de software da cidade.
Nesta época, eu já tinha criado vários hábitos para ampliar meu contato com o inglês. Por exemplo, eu só assistia filmes e séries com áudio E legenda em inglês. Passei a usar o inglês quando fazia anotações. Mudei o idioma do sistema operacional para inglês. E assim por diante.
No entanto, eu ainda não estava satisfeito. Foi quando resolvi realmente estudar inglês, com método, com um plano de estudos diário, coisa que eu não havia feito até então. E é esta a razão da divisão entre fase formal e fase informal no nome dos tópicos.
Até então, eu nunca tinha tentado falar inglês. Eu estava satisfeito em conseguir ler razoavelmente bem, mas a conversação, por algum motivo, não me interessava. Talvez eu achasse que estivesse além da minha capacidade ou algo assim. Sinceramente, não me lembro.
Foi nesta época que eu comecei a acompanhar sites de dicas de aprendizado de inglês (no fim deste post vou listar vários). Esses sites me apresentaram à noção de praticar o listening, ou seja, ouvir o áudio em inglês. Eu já era fã de podcasts, principalmente voltados a filmes, quadrinhos, games, esse tipo de coisa. Então, foi um passo natural passar a ouvir podcasts de aprendizado de inglês.
Podcasts!
O primeiro podcast que passei a consumir regularmente foi o ESL Podcast. Eu ouvia os episódios durante o horário do almoço, acompanhando a transcrição. O texto geralmente consistia de um diálogo entre dois personagens. Os leitores liam bem devagar e de maneira bem articulada, de modo que era fácil de entender o que eles estavam dizendo.
Não demorou muito tempo na verdade para que eu desse o próximo passo na minha evolução: passei a conseguir entender 100% do áudio sem as transcrições.
Eu diria que esse é um passo decisivo no progresso do seu aprendizado. Não depender de transcrições te dá uma liberdade sem precedentes para praticar o listening. Você pode ouvir:
- fazendo exercícios;
- indo ou vindo do trabalho;
- na fila ou sala de espera do banco/correio/dentista/etc;
- lavando a louça, limpando a casa ou fazendo outro tipo de trabalho manual.
Em resumo, ouvir sem depender da transcrição deixa suas mãos livres, o que te permite integrar o inglês na sua rotina, ocupando intervalos de tempo que em outra situação seriam desperdiçados.
Toda essa prática surtiu efeito e a minha compreensão do inglês falado foi melhorando consideravelmente. Aos poucos, eu fui abandonando os podcasts de “aprendizado de inglês” e passei apenas a ouvir podcasts de assuntos variados (inclusive de programação).
Toda essa prática surtiu efeito e a minha compreensão do inglês falado aumentou consideravelmente. Só faltava uma coisa: como arrumar alguém para conversar?
Skype to the rescue
Por volta de 2014, se não me engano, eu vim a saber de um americano chamado Blake Wind que dava aulas de inglês por Skype, e cobrava mais barato que muitos outros professores da época.
Fiz diversas aulas com o Blake em 2014 e 2015, e depois de um tempo parei devido à alta do dólar. Desde então, faço aulas esporadicamente quando sinto que preciso de prática em algum ponto específico.
Roadmap
Se eu tivesse que aprender inglês novamente hoje - ou aprender outro idioma - como eu faria? É basicamente disso que esta seção se trata. Vou usar a minha experiência e os erros cometidos como base para criar um “roteiro” para você seguir.
Aprender o básico
Assim como uma casa precisa de um alicerce, você necessita de uma base de conhecimentos sobre a qual construir seu aprendizado. Como fazer isso?
Duolingo
Algo que não existia na minha época que teria ajudado muito é o Duolingo. Eu estou atualmente usando esse aplicativo para estudar Espanhol e Francês, e eu posso dizer que ele funciona caso seu objetivo seja avançar do zero até um conhecimento básico.
Você não vai sair falando inglês apenas com ele, mas você vai conseguir praticar as quatro habilidades. Você vai conseguir construir um vocabulário, aprendendo não apenas palavras soltas mas também frases comuns e expressões, e integrando o áudio e a pronúncia correta desde o início, o que é fundamental.
Estude com o Duolingo todo dia, até terminar o curso. Após isso, continue reforçando os pontos nos quais não estiver tão bem.
Curso Inglês Online
Depois do Duolingo, eu recomendo o curso básico do site Inglês Online, da Ana Luiza. O curso é pago, mas é um valor que considero acessível e vale muito a pena.
Prática diária do listening
O próximo passo é integrar o áudio no seu dia-a-dia. Como já disse anteriormente, a situação ideal é chegar ao ponto de não precisar mais de transcrições, pois assim você terá liberdade para ouvir inglês praticamente em qualquer situação que sobrar um tempo.
Chegar até esse ponto vai demandar um certo trabalho, no entanto. Para isso, eu sugiro a leitura da série de artigos “Como Falar Inglês - As Dicas Essenciais”, escrita pela Ana Luiza do site Inglês Online. É uma série um pouco extensa, mas que detalha passo a passo como evoluir no listening, inclusive com fontes de áudio adequados para cada nível do aprendizado.
Não esqueça das outras áreas
O listening deve ser o protagonista da sua estratégia de aprendizado. O que não significa que as outras habilidades devem ser negligenciadas.
Aqui vão algumas estratégias para deixá-las em dia:
Reading
Favoreça o inglês na leitura de qualquer material. Favoreça sempre a Wikipédia em inglês, assim como documentação de linguagens ou frameworks. Siga pessoas influentes da área no Twitter; leia seus blogs e quaisquer outras publicações. Além de praticar o seu inglês, você vai estar antenado(a) com o que acontece de importante na área.
Writing
Invente oportunidades para escrever em inglês. Crie um blog. Comece um diário. Encontre algum projeto Open Source que você ache interessante (de preferência, algo que você usa) e se envolva! Entre no chat do projeto no Gitter; procure as issues no GitHub e participe das discussões; puxe assunto no Twitter com alguma daquelas pessoas influentes que você seguiu no passo anterior. Talvez você se surpreenda com a frequência com que elas respondem!
#### Speaking Fale sozinho. Sim, estou falando sério. Experimente gravar todo dia um vídeo (ou áudio) curto, de até um minuto, no qual você fala sobre seu dia (ou qualquer assunto).
Outra dica interessante é ler em voz alta. Encontre um texto, de preferência sobre um assunto que ache interessante, e leia em voz alta. Melhor ainda é gravar a sua leitura e depois pedir a opinião de uma pessoa que saiba inglês.
DICA IMPORTANTE: jamais tente adivinhar a pronúncia de uma palavra. Quando encontrar uma palavra que você jamais ouviu, ao invés de tentar pronunciá-la, ouça sua pronúncia correta antes. Uma ótima ferramenta para isso é o site Forvo.
Falar sozinho e ler em voz alta sejam técnicas úteis, mas têm uma limitação importante e óbvia: a falta de interação com outra pessoa. Para resolver isso, temos sites de language exchange, como o italki.
Finalmente, aulas com professores nativos sempre é uma opção, caso esteja dentro das suas possibilidades.
Aprender inglês é possível. O que você está esperando?
Espero ter conseguido, através da minha história, mostrar que aprender inglês é possível sim, ainda que haja dificuldades. O meu aprendizado foi longo e inconsistente, por não ter tido as facilidades que existem hoje em dia.
Para te ajudar ainda mais, eu criei uma página com recursos para estudar inglês online. Vou mantê-la atualizada constantemente.
Agradeço pelo seu tempo, e estou à disposição caso precise de mais alguma ajuda. A área de comentários está aí para isso.
See you later!
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